Sobre Apúlia
- Enquadramento -
Enquadramento Geográfico e Populacional

Apúlia situa-se no litoral noroeste português, na província do Minho, a cerca de 40 Kms a Norte da cidade do Porto, a 30 Kms a Sul da cidade de Viana do Castelo, e a 38 Kms a Oeste da cidade de Braga. Administrativamente integra o concelho de Esposende, distrito de Braga.
Com uma área de 1051ha é, geograficamente, a segunda maior freguesia do concelho de Esposende.
Possui uma população residente de cerca de 7000 habitantes, distribuídos pelos quatro Lugares que a constituem: Igreja, Areia, Paredes e Criaz.
Em Maio de 1988 foi elevada a vila.
- Recursos -
Recursos Locais
A ESTRUTURA DA POPULAÇÃO
O grupo sócio-profissional mais representativo da população de Apúlia é constituido pelos agricultores. Seguem-se os trabalhadores da indústria e da construção civil. Com pouca expressão aparecem os pescadores artesanais, as pequenas indústrias familiares, os comércios e os serviços.
O SECTOR AGRO-FLORESTAL
A principal actividade produtiva de Apúlia é o sector agro-florestal, e particularmente a agricultura, caracterizando-se por um excessivo parcelamento das explorações, com pequenas courelas ou “leiras”, o que envolve sérios problemas técnico-financeiros, e ainda outros do tipo organizacional.
Apúlia apresenta, contudo, grandes potencialidades por dispôr de solos de várzea, com boa aptidão agrícola, e dos campos de “masseira” ou “gamela” para a cultura intensiva.
Aqui as explorações agrícolas têm carácter familiar, e os arrendamentos apenas se registam em três por cento dos casos.
O Produto Agrícola Bruto (PAB) é predominantemente de origem vegetal e animal. Deste último têm especial relevo o leite e a carne.
Do PAB vegetal destacam-se a batata, a cenoura, a cebola e as hortícolas.
OS FERTILIZANTES MARINHOS
O recurso aos fertilizantes marinhos constitui, desde sempre, problema vital para os habitantes de Apúlia.
Os agricultores utilizavam, em tempos idos, o sargaço e o “pilado” ou caranguejo, conjuntamente, na fertilização dos campos. Contudo, talvez pelo uso indiscriminado de redes pouco adequadas, e ainda o desrespeito pela época do “defeso”, fez com que se extinguisse o segundo daqueles fertilizantes.
Presentemente o único largamente utilizado é o sargaço, numa mistura aleatória de algas castanhas, verdes e vermelhas que, pelo seu extraordinário potencial biodinâmico, acelera a biodegradação de vegetais e folhas mortas tornando-se, por isso, fertilizante natural por excelência.
- História -
Breve Resenha Histórica
I – ORIGENS DE APÚLIA
A referência mais remota que se conhece da ocupação humana no espaço geográfico de Apúlia remonta ao período de Romanização da Península, que se iniciou no ano 218 a.C., e terminou no ano 19 a.C.. Mas isto não significa que não tenham por aqui passado e habitado outros povos, só que não dispomos de elementos que o documentem e, como tal, falar sobre eles não poderia ser de outro modo que não fosse meramente especulativo. Na verdade, no período que antecedeu a Romanização, os povos desta região viviam no cimo dos montes ou elevações, em fortificações, pilhando e guerreando entre si. Segundo Estrabão – historiador da época romana – os povos que habitavam o litoral norte da Península, entre os rios Douro e Minho, seriam os Calaicos. Esta população castreja, aquando da chegada dos Romanos, encontrava-se num estádio civilizacional bastante atrasado para a época. Possuia uma economia baseada na pastorícia e numa agricultura bastante rudimentar – crê-se, contudo, que conhecia a cultura do linho e de cereais. Com a chegada dos Romanos à Península o modo de viver destas populações alterou-se radicalmente. Assim, deixa de fazer sentido manterem-se no cimo dos montes por razões defensivas, porque agora existe uma nova ordem administrativa e judicial, passando todos a ter o estatuto de colonos da grande Roma, com “Direito” próprio, e uma organização administrativa que garantia os direitos e a segurança das populações. Por outro lado, com os Romanos surge uma agricultura desenvolvida, com novos métodos e novas culturas, o que obrigou à procura de terrenos que possuíssem boa aptidão agrícola, sendo esta nova abordagem económica substancialmente vantajosa em relação à que perdurou, até então, entre os povos residentes. Terão sido estas, provavelmente, as razões primeiras que levaram a que aqui se fixassem populações no período da Romanização. A confirmar estes dados existem inúmeros vestígios e documentos que se referem a uma “villa” romana – “Villa Menendiz” – com determinada importância, que se situava a sul de Apúlia, no sítio da Ramalha. Da conjugação destes elementos podemos apontar como data provável da ocupação humana em Apúlia, com carácter estável, a partir da época da Romanização da Península, e que seria entre os anos 138 a. C. – ano em que se iniciou a primeira campanha militar romana comandada pelo governador Décio Júnio Bruto, que teve ínicio na margem norte do rio Tejo e terminou na margem sul do rio Minho – e o ano 19 a. C. – em que terminou o processo de conquista da Península. Uma outra manifestação ostensiva da Romanização desta área onde se situa Apúlia é o próprio nome. Sabemos que, na época, existia a região de “Apúlia” na Itália meridional, entre os Apeninos e o Adriático, actualmente denominada de Púglia, e formada pelas provínicias de Bari, Brindisi, Foggia, Lecce e Taranto. Daí se reconhecer e aceitar, pacificamente, que o nome desta localidade teve a sua origem durante o processo de Romanização. Não se nos afigura difícil conjecturar que a “Villa Menendiz” teve uma importância proeminente nesta região, tendo sido, seguramente, a localidade de maior importância na área geográfica do actual concelho de Esposende – durante um período temporal superior a mil anos, que vai do séc. I ao séc. XII. Pois de outro modo como explicar que ela tenha perdurado até à Idade Média, lhe tenha sido concedido carta de Couto por D. Afonso Henriques, na qual este a doou ao Arcebispo de Braga. Além disso, repare-se que foi concelho até 1836, e é indubitável que a carta de Couto e, concomitantemente, o concelho tiveram na sua origem, como matriz comum, esta “villa” romana. Regista-se, ainda, que, segundo alguns historiadores, a origem dos concelhos – o municipalismo – remonta à época da Romanização, à sua organização administrativa.
II – A BAIXA IDADE MÉDIA
Com o advento do fim do Império Romano do Ocidente teve início uma fase de enorme confusão: guerras civis pela posse do poder, intrigas palacianas e a entrada de povos “bárbaros”. Assim, a partir do ano 407, povos como os Vândalos, Suevos e Alanos entram na Península, segundo alguns autores não propriamente com intuito invasor ou de conquista, mas antes convidados por facções que disputavam o poder, para lutar ao lado destas contra os seus rivais. Na verdade, com a guerra civil instalada na Península entre o filho de Teodósio – imperador romano – e um usurpador que se autoproclamou de Constantino III – tendo sido o primeiro vencido – verificou-se uma senda de pilhagens, saques e destruição das ricas propriedades rústicas do norte da Península. No que concerne à “Villa Menendiz” nada sabemos da sua sorte nesta fase conturbada do fim do Império Romano. Mas o desenvolvimento das vicissitudes por que passaram as populações que habitavam esta área geográfica estende-se até alvores da nacionalidade, ou seja, um período que vai do séc. V ao séc. XII. Contudo, existem elementos que nos permitem apontar para a possibilidade de, efectivamente, neste período do final do Império Romano e, face à instabilidade política, a “Villa Menendiz” ter sido abandonada, pelo menos temporariamente, tendo a sua população se deslocado ligeiramente para o interior. Conforta esta opinião o facto de se saber ser, então, uma realidade, o clima de insegurança nas zonas litorais, expostas a actos de saque e pilhagem vindos do mar, o que obrigou as populações a retirarem para áreas do interior, colocando-se a salvo de pirataria.
III – A OCUPAÇÃO ÁRABE E A RECONQUISTA
Outro factor determinante na história do território nacional foi a invasão Muçulmana que se iniciou em 711. Nesse ano os aliados do filho do rei visigodo Vitiza pediram ajuda aos muçulmanos para lutar contra o rei Rodrigo – que acabaram por vencer. Só que os muçulmanos logo se aperceberam da decadência do “Estado Visigótico”, e transformaram a ajuda numa rápida campanha de conquista de toda a Península. Mas também o domínio árabe não ficou imune às lutas internas pelo poder, sendo esta uma das causas da sua decadência, acrescida desta outra: é que, durante o domínio árabe, os resistentes cristãos nunca abandonaram os propósitos de reconquista. Só que neste período, que vai do séc. VIII até ao séc. XII, houve vários avanços e recuos, quer de muçulmanos quer dos resistentes cristãos, do que resultou naquilo que os historiadores denominam de ermamento. Ermamento, como o próprio nome indica, é tornar ermo, sem população. Ora, face às constantes conquistas e reconquistas de árabes e cristãos, ao clima de guerra constante, as populações abandonam, uma vez mais, os seus locais de origem e procuram abrigo junto de cidades com estruturas defensivas (muralhas), protegidas por exércitos de senhores feudais, de molde a ficarem a salvo dos horrores da guerra. Não sabemos até que ponto o ermamento se fez sentir na área geográfica de Apúlia. Mas somos de opinião que, provavelmente, tal não aconteceu de forma tão marcante como em outras áreas geográficas do País. Conforta esta ideia o facto de se saber que a “villa” romana seria, na opinião de alguns historiadores, o gérmen da paróquia rural da sua sede e, concomitantemente, dos vínculos que a ligava. A “villa”, com a sua estrutura social e política, seria o substracto, o húmus onde se desenvolveu a paróquia rural na Baixa Idade Média. O que traduz, face aos desenvolvimentos posteriores, no que concerne a Apúlia, na ideia de uma certa continuidade populacional. Importa, agora, referir um aspecto que permanece – como tantos outros da história – obscuro. A “Villa Menendiz” foi soterrada pelas areias do mar. Saber se o assoreamento foi um processo rápido, com origens climatéricas (fortes tempestades), ou um processo lento, de ordem sócio-estratégica, é assunto que se torna difícil de descortinar. Mas, em nossa opinião, a segunda hipótese é a mais viável. Adjacente a esta questão, outra é a de saber em que data provável se verificou o abandono definitivo da “Villa Menendiz”. Já atrás referimos que é susceptível de ter havido abandonos temporários em determinadas épocas, por razões de segurança, nomeadamente no final do Império Romano e, ainda, na época da conquista árabe e da reconquista cristã. Por outro lado, sabemos hoje que epidemias, como a peste e outras doenças, foram motivo de desertificação demográfica em muitas localidades. Mas a carta de Couto outorgada por Afonso Henriques à “Vila de Mende” parece, da análise dos limites aí descritos, não coincidir exactamente com a localização que as escavações efectuadas nos anos cinquenta do séc. XX trouxeram à luz a “Villa Menendiz”. Assim sendo, afigura-se-nos razoável que o abandono da “villa” se deveu mais a razões de segurança, e que se pode situar, precisamente, entre os séc. VII e IX, época em que mais se fizeram sentir os actos de pilhagens efectuados por povos vindos do norte da Europa. E tanto nos parece esta a hipótese mais correcta se pensarmos que a deslocação dos habitantes foi para um espaço territorial muito próximo da “Villa Menendiz”, mas o bastante e suficiente para se colocarem a salvo da cobiça dos povos que “batiam”, em embarcações, a costa norte da Península.
IV – O ADVENTO DA NACIONALIDADE
Com Afonso Henriques, que a partir de 1139 passa a adoptar o título de Rei, começa a nacionalidade portuguesa. Ora o Rei, para sedimentar e fortalecer o seu poder, começa a emitir cartas de Foral e de Couto. Na verdade, quer as cartas de Foral quer as cartas de Couto, denotavam uma vontade de dar autonomia administrativa a determinados núcleos urbanos. Ambas criavam concelhos, com uma única diferença: enquanto os Forais eram concelhos que prestavam tributo ao Rei, em regra, os Coutos eram concelhos que prestavam tributo ao poder eclesiástico. Sabemos que o poder régio, para se consolidar, fez apelo sistemático ao poder eclesiástico. Afonso Henriques, em 1143, passa a prestar vassalagem à Santa Sé, o que lhe trouxe, como contrapartida, o seu reconhecimento como Rei legítimo perante a Igreja Católica Romana. Aliás, facto nada estranho, se pensarmos que se está em plena época da reconquista cristã. De facto, no território nacional, o poder eclesiástico passa a ser um poderoso aliado que o Rei mobiliza para sedimentar o seu poder. Daí não ser de todo difícil entender, neste contexto, as razões de a “vila de Mende” ter sido oferecida ao Arcebispo de Braga, passando as populações aqui residentes a prestar tributo a um novo senhor: o Arcebispo. Segundo a tese de alguns autores, o primeiro documento emitido por Afonso Henriques, onde se intitula “Rei de Portugal”, foi precisamente a carta de Couto concedida à “vila de Mende”, a 7 de Julho de 1140. Couto que se situaria numa área geográfica, como se pode aferir pelas confrontações descritas no documento, entre Apúlia, parte da freguesia de Necessidades e parte da freguesia de Estela. A abonar esta tese existe, na Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra, uma obra da autoria de Flávio Gonçalves, e publicada no Boletim Cultural da Póvoa de Varzim. Em 1165 Apúlia é referida como Couto do Arcebispo de Braga. Nas inquirições de Afonso II, em 1220, esta freguesia vem designada como “Santo Michaeli de Púlia (…) onde não existem terras reguengas (terras do Rei) …”. O Couto de Apúlia, numa fase posterior, compreende a actual freguesia de Apúlia, o lugar de Bassar da freguesia de Necessidades, e ainda parte actual da freguesia de Cristelo. As razões destas alterações de limites do concelho de Apúlia não se descortinam. Não sabemos as exactas razões por que a freguesia de Estela, que em tempos estava integrada no Couto de Apúlia, não aparece referenciada dentro dos seus limites no séc. XVII. Terá algo a ver com deslocações demográficas que se verificaram em determinados períodos?… Ou terá tido, antes, como causa um “acordo” entre o Arcebispado e o Rei?…
V – DA MODERNIDADE À ACTUALIDADE
Com a reforma dos concelhos, levada a cabo no reinado de D. Manuel I, foram extintos cerca de 300 concelhos, mas o de Apúlia perdurou até à reforma de Mouzinho da Silveira (1832-1836), sendo extinto pelo decreto de 6 de Novembro de 1836, que reduziu o número de concelhos a 351, suprimindo 466 dos 817 então existentes. O facto de o concelho de Apúlia não ter sido extinto com a reforma Manuelina de 1502 denota que este conservava um vigor político e económico que permitia a sua continuidade. O que vem contrariar aqueles que pensam que Apúlia só não foi anexada ao concelho de Esposende em 1572, por se situar na margem esquerda do rio Cávado, e ser, à época, “…localidade pobre, de reduzida importância e praticamente despovoada, habitando-a apenas 19 vizinhos…”. A ser assim, por que razão existiam, então, proibições de apanha do sargaço por “gentes” que não fossem do Couto de Apúlia?! Se era quase despovoada, por que razão não deixar outras “gentes”apanhar aqui o sargaço? Como se pode dizer que viviam aqui alguns pobres vizinhos se afinal estes, além de rendimentos normais, dispunham, ainda, de rendimentos acrescidos da recolha do sargaço?… E como poderiam habitar o Couto apenas 19 vizinhos se, na verdade, ele abrangia tão vasta extensão, numa área total das actuais freguesias de Apúlia, Necessidades e Cristelo! Estas, e outras interrogações, colocam-se alguns historiadores que consideram sem fundamento e sem suporte documental aquelas afirmações gratuitas. De todo o modo, só a partir da reforma de 1836 Apúlia passa a integrar o concelho de Esposende. É, hoje, a segunda maior freguesia do concelho de Esposende, e foi elevada a vila, por deliberação da Assembleia da República, em Maio de 1988.
Francisco Sérgio Duarte Barbosa
(In Apúlia, Que Passado, Presente e Futuro, 1998)
CÓPIA DA CARTA DE COUTO OUTORGADA POR D. AFONSO HENRIQUES À VILA DE MENDO
TRADUÇÃO:
CRISTO. Em nome da Santa e Indivisível Trindade, Pai, Filho e Espírito Santo, aquem de tudo por tudo e em tudo seja dada glória pelos séculos sem fim, amen. Porque os textos evangélicos incessantemente nos convidam e aconselham a procurar a vida eterna e a coroa dos anjos, dizendo que preparemos no céu a nossa morada e aí “coloquemos o nosso tesouro, onde nem a ferrugem nem a traça o consome, e onde os ladrões não desenterram nem roubam”, e não só o “dá e dar-se-vosão”, porque “assim como a água apaga o fogo, também a esmola extingue o pecado”, mas ainda o que semeamos, colhemos, o que damos, recebemos, me há-de merecer ouvir a voz de Deus a colocar-me à sua direita entre os eleitos, dizendo: “vinde, benditos de meu Pai, ocupar o reino que vos está preparado desde o princípio do mundo”. Eu, Afonso, Rei de Portugal, filho do conde Henrique e da raínha Teresa e neto do rei Afonso, o grande, faço carta do couto da Vila de Mendo e de Santa Maria de Estela, em honra de Deus e de Santa Maria e de São Martinho, e de todos os santos, a vós, abade D. Ordonho e a vossos monges que no convento de Tibães perseveram numa vida santa, e a vossos sucessores que aí residem em virtude da promessa que fizestes de orar a Deus dia e noite pela salvação da minha alma e de meus pais e também pelos duzentos meios que me destes. Igualmente vos dou a concedo e confirmo em couto a mesma vila de Mendo com Santa Maria de Estela segundo estes limites: por Fontela, e depois por Lourido e depois pelo porto de Gonderiz, e depois pelo outeiro de Aqualada, e depois pelos penouços de Gonderiz e logo a seguir pela água do Ribeiro e pelo agro do monte, e depois pelo porto de Èguas e pela lomba de riba de Vilares e pelo e depois pela riba de Vilares e pelo outeiro de Freixo, e depois pelo Fontão do Meio e pelo couto da Encruzilhada e depois pelo córrego de Tremivis e pelo córrego de Rabão, e depois pela parte de cima do agro da senra de Froila Mendes, e depois pelo porto de forcada e pelo porto de Sazido e pelo porto de Areias, e depois por Porcos de Armenteiro, como se vai para o mar. Seja vosso, e de vossos sucessores, quanto dentro destes limites acima mencionados eu tenho, ou possa dever Ter, para sempre. E assim desde hoje seja aquela vila atrás referida, e delimitada, e confirmado em couto, e seja retida do meu direito e colocada e confirmada sob o vosso domínio. Quem, tanto parentes como estranhos, se vier a insurgir contra esta minha livre e benévola decisão, quanto do vosso direito tentar alienar, tantos vos pague em dobro, e pela violação dos limites pague 2 talentes de ouro e 3 mil soldos ao poder régio, e pelo desacato aos abades e monges de São Martinho de Tibães seja ainda almadiçoada até à 7.ª geração, e excomungado e privado do corpo do senhor, e seja afastado do seio da Santa Madre Igreja, e nem ressuscite no dia do juízo, mas sofra as penas do inferno em companhia de Judas traidor, e de Simão Mago, e de Datan e de Abiron, que a terra engoliu vivos. Carta de couto feita a 7 de Julho da era de 1178. Eu, Afonso Rei de Portugal, esta carta de firmíssimo couto e grafide segurança rubrico pela minha própria mão, para vós, D. Ordonho, abade de Tibães, e para vossos monges, tanto presentes como futuros.
Eu, João, por graça de Deus arcebispo de Braga confirmo esta carta e lanço também ao que a observar a minha benção e, ao que ousar inflingi-la, a maldição na forma acima indicada.
Testemunhas: Pedro testemunha, Pelágio testemunha, Mendo testemunha.
Eu, Fernando Peres confirmo; conde Rodrigo confirmo; Fernando Mendes confirmo; Fernando Captivo confirmo;
Eu, Egas Moniz, mordomo da cória, confirmo; Garcia Mendes, alferes, confirmo; Lourenço Viegas confirmo; Gonçalo de Sousa confirmo; Mendes Acha confirmo; Mendes Afonso confirmo.
Pedro, chanceler, notou.
(Sinal) REI DE PORTUGAL (23)