A Apanha do Sargaço

Entre o rio Cávado e o Ave a costa é arenosa e com formações rochosas pouco profundas. Existem, assim, condições que permitem o desenvolvimento das algas marinhas, as quais se desprendem sempre que o mar está revolto ou em período de marés vivas, predominantemente nos equinócios.

Também constitui factor importante a pouca profundidade da costa, que permite ao sargaceiro a recolha directa sobre os rochedos. Contudo, a “mareada” é mais abundante após um período de maresia, porque o mar arroja à costa as algas que se desprenderam. É, assim, mais fácil ao sargaceiro a sua recolha e o seu transporte para o local onde fica a secar durante dois a três dias. Mas a apanha do sargaço é, habitualmente, faina difícil e perigosa, dado que é necessário enfrentar as ondas do mar, por vezes muito encapeladas. Por isso cabe aos homens aquela tarefa, e às mulheres o transporte para as “camas” de secagem.

Depois de seco o sargaço é “empadelado“, isto é, enrolado e posto em pequenos montes – “padelos” – e transportado, então, para as cabanas, onde fica empilhado, formando “serras“, até sua utilização nas culturas agrícolas.

Dado o reconhecido valor como fertilizante natural, e a convicção cada vez maior dos perigos para a saúde pública inerentes ao uso excessivo de adubos químicos, a procura do sargaço tem aumentado consideravelmente nos últimos tempos. Mas o agricultor de Apúlia apenas comercializa parte do sargaço retirado ao mar durante cada época, e só se ele for excedente e não fizer falta para as suas terras.

Em outros tempos, sendo Apúlia Couto do Arcebispado de Braga, a apanha do sargaço era controlada pelo poder eclesiástico: Neiva Soares refere que, em 1685, as mulheres não podiam ir, de noite, ao sargaço, por determinação do Visitador: “…algumas pessoas tementes a Deus escandalizavam-se e estranhavam as demasiadas galhofas e arriscadas galantearias nessas sessões pelas conversações entre homens e mulheres…“; todo o sargaço recolhido aos domingos e dias santos, bem como nas vésperas e após os dias santificados, reverteria para a fábrica da Igreja paroquial; os lavradores de Fonte Boa – então Fonte Má – freguesia confinante, a nascente, com Apúlia, foram proibidos de passarem no Couto para apanhar sargaço. Mais tarde, em 1885, segundo o Código de Posturas do Concelho de Esposende, era proibida a apanha do sargaço aos domingos e dias santos; estabelecia-se um período de “defeso” nos meses de Maio, Junho, Outubro, Novembro e Dezembro, não sendo permitido, sequer, a apanha do sargaço que o mar arrojava à praia, sob pena de multa; só era permitida a apanha do sargaço nos meses de Agosto e Setembro. Posteriormente o período foi alargado, passando a ser permitido do nascer ao por-do-sol, desde 1 de Maio a 31 de Dezembro, mediante licença passada pela Capitania de Esposende. A partir de 1960 esta situação foi totalmente alterada, e a apanha do sargaço é, hoje, livre e permitida a toda a gente, sem limite de tempo ou de espaço.

Os meses de maior abundância de sargaço são Maio e Setembro, por força das marés vivas dos equinócios.

Mareada